Não me recordo de alguma vez ter escrito um texto em tom de lamentação quando o assunto é um produto que deixa de estar disponível no mercado. E nunca o fiz porque o fim de linha de algum modelo ou versão por norma antecipa a chegada de algo mais moderno, mais capacitado, mais seguro ou mais tecnológico, e a evolução tecnológica do mercado de automóveis sempre foi algo que nos empolgou.
Mas existem veículos que são marcantes e apaixonantes, primeiro pelas suas características, que se encaixam em determinados conceitos de engenharia que nos agradam, mas também, ou principalmente, porque são honestos.
Quando utilizamos a palavra honestidade a colocamos na forma mais literal do que dela podemos extrair de qualquer dicionário. “Qualidade ou caráter de honesto, atributo do que apresenta probidade, honradez.” - Ou ainda “característica do que é decente, do que tem pureza”.
Toda esta introdução para falarmos do Sandero R.S., modelo que teve uma edição limitada de 100 unidades finais anunciadas pela Renault, precisamente para marcar o fim de sua produção no Brasil.
Voltando ao adjetivo que decidimos utilizar para definir o RS, honestidade, a ele teremos que juntar seu DNA, a esportividade. E o Sandero R.S. é exatamente a união dessas duas características, e foi durante muitos anos um verdadeiro hatch compacto esportivo, coisa rara em nosso mercado, numa mistura de coragem e respeito da Renault por um perfil de cliente não muito numeroso, um produto que por diversas vezes visitou nossa garagem, a última delas em 2021.
Esta versão nunca foi uma adaptação de um Sandero comum a uma estética de esportivo, solução bem comum em nosso mercado. Embora a plataforma seja a DACIA M0 que é a base de seus irmãos de linha, o RS é na sua essência um esportivo que emociona desde o momento que rodamos a chame e iniciamos a sinfonia que é seu motor 2.0 aspirado e seu delicioso ronco. O motor de 150cv foi realmente desenvolvido para emocionar. Coletor de admissão 20% mais largo, duto de admissão reposicionado para maior resfriamento por ar ambiente, pressão de injeção de 4,2 bar e software remapeados pela Renault Sport com exclusivo sistema de exaustão, são apenas algumas das referências técnicas anunciadas em seu manual.
Um carro de design e acabamento empolgante, como são os modelos com estas características em mercados externos. Peças como o spoiler traseiro de generosas dimensões, saias laterais, para-choques exclusivos tanto na dianteira como na traseira, a combinação de roda 17” e pneus Michelin PS4 (205/45 R17), com uma estrutura específica e única para obter mais aderência e estabilidade nas curvas.
Ainda em destaque os freios a disco nas quatro rodas. Os dianteiros são ventilados e têm 280x24mm de diâmetro e espessura e pistão com 54 mm de calibre, diferente dos traseiros que são de disco sólido com 240mm e 34 mm do pistão. Mais resistência em uso intensivo e distribuição de travagem mais estável, afinal, o R.S. sempre pediu uma pista para tirarmos dele toda a sua essência. Talvez por isso mesmo, grupos de aficionados ao modelo se reúnem regularmente em pistas pelo país para que seus felizes proprietários possam aproveitar toda a sua capacidade.
Seu design externo tem ainda como característica marcante o duplo escapamento esportivo, que proporciona menor perda de pressão sobre o silenciador, o que aumenta o desempenho além de, como já referido, entregar uma verdadeira sinfonia para os ouvidos dos apaixonados por esportividade. O diâmetro do tubo foi aumentado o que aumentou a quantidade de gás de escape, melhorando torque e potência.
O interior nos remete à esportividade do modelo através de pedais metálicos, soleira com a indicação RENAULT SPORT, o logo R.S. nos bancos e detalhes no volante ou na abertura da tela multimídia. Tudo isso harmonizando o preto com tom de vermelho que é utilizado no acabamento de alguns detalhes, tanto nos bancos como no painel.
Mas onde está sua essência é na dinâmica. Uma combinação de ajustes de suspensão, que é independente na dianteira do tipo McPherson e eixo de torção na traseira, com molas, amortecedores e barra de torção focados no maior desempenho, permitindo curvas realizadas de forma mais rápida e estável, e naturalmente, com mais segurança.
O seu desempenho é potencializado por uma distância em relação ao solo reduzida em 26 mm, molas rígidas combinadas com absorvedores de choque em poliuretano que permitem redução de impacto mais progressivo, bem como, barra estabilizadora 17% mais rígida e eixo traseiro 65% mais rígido, permitindo uma postura de verdadeiro carro esportivo.
Outro item fundamental é o câmbio manual de 6 marchas. De trocas precisas, ele é responsável por muito do prazer de “pilotar” o R.S., já que está configurado através de relações curtas no inicio para assim dar agilidade inicial ao motor aspirado, crescendo de forma muito rápida em giros mais altos e entregando uma sexta marcha como recurso principalmente para viagens. Tudo no Sandero R.S. está muito bem trabalhado pela engenharia da Renault para entregar uma postura firme e esportiva.
Sua direção de assistência eletro-hidráulica também reflete a postura do modelo, não sendo macia, é, no entanto, firme e precisa, como se pede a um carro esportivo. Com um peso de 1181 kg e uma potência máxima atingida nas 5750 rpm de 150 cv no etanol ou 145 cv se abastecido com gasolina, o motor transversal de 16V (4 por cilindro) de injeção multiponto com comando de válvulas duplo no cabeçote é capaz de entregar um torque 20,9 kgfm ou 20,2 kgfm se abastecido com etanol ou gasolina, respetivamente.
Mas trouxemos vocês até aqui sem falar de características como espaço, porta-malas ou itens importantes como controle de estabilidade e tração, recursos de conforto no interior ou até da segurança, através da presença de 4 airbags. Tudo porque nossa intensão foi mostrar como o Sandero R.S. é realmente uma proposta honesta, principalmente em termos de dinamismo, afinal ele é (ainda) o único verdadeiro hot hatch disponibilizado para o mercado brasileiro.
E só podemos lamentar que um produto tão verdadeiro vá deixar órfãos muitos dos que poderiam ter no modelo uma opção de carro verdadeiramente esportiva por menos de 100 mil reais.
Finalizamos referindo que a Renault do Brasil preparou um kit especial chamado “R.S. Finale” destinado para as 100 últimas unidades produzidas do Sandero R.S. 2.0. Os últimos clientes do emblemático modelo receberão itens exclusivos como um pôster no estilo blueprint do esportivo, bem como itens da griffe R.S. – boné, chaveiro, squeeze e carteira. Além destes itens, o kit trará uma plaqueta de metal numerada, para ser afixada no console central, identificando que aquele R.S. é um dos últimos produzidos, tornando estas unidades ainda mais exclusivas.
O Sandero R.S. é um caso de honestidade para com um perfil de público bem especifico e que vai deixar um vazio em todos os que conhecem sua essência. Um carro apaixonante que vai deixar saudades, também em nossa equipe.
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Parabéns pela descrição "honesta" do MELHOR AUTOMÓVEL que já tive em quase 50 anos de habilitação.......desnecessário destacar que o RS foi feito especialmente para os amantes do automobilismo esportivo....e não para aqueles "motoristas sem emoção" que lutam por economia de mililitros de combustível....para eles....o enfadonho....lento e insonso motor 1.0, 3 cilindros...