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Editorial: A febre das picapes - símbolo de poder ou contrassenso urbano?

  • Foto do escritor: Redação Publiracing
    Redação Publiracing
  • 4 de out.
  • 3 min de leitura

Editorial: A febre das picapes - símbolo de poder ou contrassenso urbano?

Tenho reparado que, nas grandes cidades brasileiras, parece que todo mundo quer dirigir uma picape. Não importa se o destino é o escritório, o shopping ou a escola dos filhos — as ruas estão tomadas por pequenas, médias ou grandes e cada vez mais luxuosas picapes.


São máquinas que originalmente nasceram para o campo, para o trabalho pesado, que dificilmente eram vistas nas cidades, mas que hoje se tornaram símbolo de status, conforto e poder.


O problema é que, no meio desse fascínio, esquecemos de fazer uma pergunta simples: faz sentido tanta picape no pesado trânsito urbano?


A invasão das gigantes

Segundo dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), o segmento de picapes, somando leves, intermediárias e grandes representa hoje cerca de 20% das vendas de veículos novos no Brasil, uma participação que cresce a cada ano, algo impensável há apenas uma década.


Embora com um perfil bem especifico, mais ao estilo hatchbach com caçamba, a Fiat Strada tornou-se o carro mais vendido no Brasil desde 2021, com mais de 100 mil unidades vendidas a cada ano, o que já mostra a predileção do comprador por este tipo de proposta.


O brasileiro, ao que tudo indica, trocou o hatch compacto por uma picape. E não porque precise dela para carregar ferramentas ou encarar estradas de terra, mas porque ela projeta algo que muitos ainda buscam no carro: status, força e presença.



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O poder da imagem

Picapes são o novo “SUV ao quadrado”. Elas dominam a estética das ruas e das redes sociais. E o marketing das montadoras soube explorar isso com precisão: os comerciais falam de liberdade, aventura e força — mesmo que o máximo de “off-road” que a maioria dos donos enfrente seja o estacionamento de um resort.


Estima-se que mais de 90% das picapes vendidas no Brasil jamais saiam do asfalto, segundo levantamento interno de fabricantes e concessionárias. Ou seja, a maioria desses veículos consome mais combustível, ocupa mais espaço e polui mais do que o necessário, apenas para satisfazer um desejo estético e simbólico.


O contrassenso da mobilidade

Não sou contra picapes, aliás, sou um fã deste tipo de produto e toda a liberdade que eles proporcionam, particularmente as picapes médias, com ótimos exemplos de produtos robustos e atraentes como Toyota Hilux, Ford Ranger, Chevrolet S10 ou Nissan Frontier.


Elas também são essenciais para o agronegócio, para a construção civil e para quem realmente precisa de tração, torque e caçamba. Mas ver modelos de duas toneladas presos no trânsito de São Paulo ou do Rio de Janeiro é, no mínimo, uma contradição.


Num momento em que discutimos sustentabilidade, eficiência e mobilidade inteligente, apostar num veículo com aerodinâmica de parede e consumo elevado parece caminhar na direção oposta. Uma Hilux diesel média consome cerca de 9 km/l na cidade, enquanto um híbrido urbano ultrapassa 20 km/l. E mesmo assim, as vendas seguem firmes.


O que estamos a ver não é apenas uma escolha racional, é uma declaração emocional — o automóvel, mais uma vez, como símbolo de poder num país em que a mobilidade ainda é desigual.


A cultura da ostentação sobre rodas

Existe também um fator psicológico e cultural inegável. Em um país onde ter carro ainda é sinônimo de conquista, dirigir uma picape é dizer, sem palavras: “eu venci”. É o mesmo impulso que fez o SUV se tornar objeto de desejo — mas agora amplificado, elevado à potência do exagero.


É curioso: nas metrópoles europeias, motoristas trocam carros grandes por soluções compactas, elétricas ou partilhadas. Já no Brasil, a tendência parece seguir o caminho inverso. Quanto mais congestionamento, mais cresce a frota de veículos grandes. Um paradoxo que revela o quanto a nossa relação com o carro ainda é mais emocional do que racional.


O futuro (talvez) precise de menos “músculo”

Não acredito que as picapes vão desaparecer — pelo contrário, o sucesso da Strada (embora uma pequena picape) está ai para confirmar isso mesmo, que o mercado mostra que ainda há muito apetite por este tipo de produto. Mas acredito que, em algum momento, precisaremos repensar essa lógica. Não faz sentido falar em mobilidade sustentável enquanto seguimos enchendo as avenidas com veículos de dimensões e consumos tão desproporcionais ao seu uso.


A verdadeira força, talvez, esteja em redefinir o que é poder ao volante: não a altura do carro ou o ronco do motor, mas a inteligência das escolhas e o respeito pelo espaço coletivo.


Até lá, continuaremos a ver picapes 4x4 enfrentando os maiores obstáculos do dia a dia: um semáforo congestionado no meio da cidade ou uma vaga com espaço suficiente para parar nas ruas, ou no estacionamento de um shopping.


Artur Semedo / Editor Chefe da Publiracing Brasil/Portugal


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