Correia dentada vs. corrente: A batalha silenciosa sob o capô que pode salvar (ou quebrar) o seu motor!
- Redação Publiracing
- há 5 dias
- 4 min de leitura

Muito se tem falado de motores ultimamente, não só no Brasil como em Portugal, e as redes sociais são o cenário perfeito para dúvidas, mas também, e principalmente, para a disseminação de boatos ou até mesmo de mitos que viram realidade, de tanto que são repetidos.
Na PUBLIRACING, como acompanhamos os dois mercados, trazemos agora um pouco do que tem sido falado, mas principalmente, das soluções encontradas para desenvolver os motores.
No Brasil a General Motors (GM) tem enfrentado problemas significativos e muita polêmica em relação à correia dentada banhada a óleo dos seus motores de três cilindros, especialmente nos modelos Chevrolet Onix, Onix Plus e Tracker (motores 1.0 e 1.2 turbo).
Natureza do Problema
A tecnologia da correia dentada banhada a óleo (também conhecida como correia imersa ou "wet belt") é projetada para durar mais do que as correias secas, atingindo em alguns casos 240 mil km. No entanto, no Brasil, muitos proprietários relataram que a correia apresentava desgaste prematuro, esfarelava ou inchava, bem antes da quilometragem prevista. Esse desgaste gerava detritos que podiam entupir o pescador de óleo e os dutos de lubrificação do motor, resultando em problemas graves e, em casos extremos, a fundição do motor.
Causa e Posição da GM
Inicialmente, a polêmica ganhou força com a negação de garantia por parte de algumas concessionárias, alegando uso de combustível adulterado ou de óleo lubrificante inadequado. A GM, por sua vez, tem defendido que a durabilidade da correia é comprometida principalmente pelo uso de óleo de motor diferente do recomendado pela fabricante no manual do veículo. A empresa enfatiza a necessidade de utilizar o óleo com a especificação correta e que as revisões sejam feitas dentro da rede autorizada.
Ações da GM e Controvérsias
Diante da repercussão, a GM tem tomado algumas ações:
Ampliação da Garantia: A empresa estendeu a garantia da correia dentada para 240 mil km ou 15 anos para os modelos afetados, sob a condição de que as manutenções programadas sejam realizadas em concessionárias autorizadas e com o óleo específico.
Troca de Fornecedor: Houve relatos de que a GM trocou o fornecedor da correia dentada do Chevrolet Onix, agora com um componente reforçado com fibra de vidro e teflon para a linha 2026.
"Ataque" nas Redes Sociais:
A Chevrolet chegou a alegar que estaria sofrendo um "ataque" coordenado nas redes sociais sobre o tema da correia banhada a óleo, com a suspeita de uso de bots para amplificar as reclamações.

Já em Portugal, e logo que publicamos as primeiras imagens de nosso próximo teste com o Opel Corsa GS, surgiu a pergunta através de nosso Instagram “ esse motor Pure Tech ainda é correia ou já é corrente?” - lá respondemos nós com base no que escrevemos em seguida.
Particularmente sobre as diferenças entre correia e corrente nos propulsores 1.2 PureTech da Stellantis, ele também tem gerado muita discussão, especialmente devido aos problemas conhecidos das versões com correia.
Basicamente, a principal diferença não é apenas o material (borracha vs. metal), mas a forma como funcionam e, mais importante, o seu histórico de fiabilidade e manutenção.
Versões com Correia (Modelos Anteriores a 2023)
A grande maioria dos motores 1.2 PureTech fabricados até 2023 utiliza uma correia dentada "em banho de óleo".
O que é: É uma correia de borracha reforçada, mas que, ao contrário das correias tradicionais, opera dentro do motor, submersa em óleo. Esta tecnologia foi adotada para reduzir o atrito e o ruído, e supostamente aumentar a durabilidade.
Problemas conhecidos: Assim como nos motores da GM, esta correia mostrou-se muito sensível à qualidade do óleo do motor. Se for usado o óleo errado ou se as trocas não forem feitas rigorosamente de acordo com as especificações da marca, o material da correia pode degradar-se, começar a esfarelar e soltar pequenos fragmentos. Estes fragmentos podem entupir o "pescador de óleo" (o filtro que succiona o óleo do cárter) e levar à falta de lubrificação, causando danos graves e até a quebra do motor.
Manutenção: A troca desta correia, inicialmente recomendada para intervalos longos (em alguns mercados até 240.000 km), foi revista pela Stellantis (grupo que detém a Peugeot, Citroën, Opel entre outras e marcas que utilizam este motor) para intervalos muito mais curtos (geralmente entre 60.000 e 80.000 km ou 5-6 anos), dependendo do modelo e ano. Mas a operação de troca é complexa e cara, pois requer a desmontagem de várias partes do motor.
Versões com Corrente (Modelos a partir de 2023)
Em resposta aos problemas e para os novos motores híbridos, a Stellantis introduziu a terceira geração do motor 1.2 PureTech (designado por EB2 Gen3), que utiliza uma corrente de distribuição.
O que é: Uma corrente metálica que, tal como a correia anterior, é lubrificada pelo óleo do motor.
Vantagens: A principal vantagem é a maior durabilidade e fiabilidade. As correntes, quando bem lubrificadas e num motor sem problemas de design, são projetadas para durar toda a vida útil do motor, eliminando a necessidade de trocas periódicas e os riscos associados à degradação da correia. Isso reduz significativamente os custos de manutenção a longo prazo para o proprietário.
Manutenção: Em teoria, a corrente não precisa de ser substituída. A sua manutenção resume-se a assegurar que o óleo do motor é de boa qualidade e que as trocas são feitas nos intervalos corretos para garantir a lubrificação ideal. No entanto, em caso de avaria ou necessidade de troca, o custo da mão de obra pode ser muito elevado.
Conclusão
A diferença é crucial:
A correia em banho de óleo (modelos mais antigos) é uma solução tecnológica com um histórico de problemas de fiabilidade, exigindo uma manutenção preventiva cara e rigorosa.
A corrente de distribuição (modelos mais recentes) é uma solução mais robusta, que elimina a necessidade de manutenção periódica e aumenta a durabilidade do motor, sendo considerada uma resposta do grupo Stellantis aos problemas anteriores.
Portanto, se estiver a considerar um veículo usado com estes motores, é fundamental saber o ano de fabricação para identificar qual o sistema de distribuição do motor e seu histórico de manutenção.
Matéria também publicada em nosso Portal de Notícias em Portugal
Comentários