Texto: Artur Jorge Semedo
Imagens: Renault ( Interior ) e Revista Publiracing
Avaliação: Sandero RS 2.0 - O pioneiro Hot Hach da Renault, é um verdadeiro esportivo.
Antes de iniciar a descrição das emoções vividas ao volante do Renault Sandero RS, referir que foi com muita expectativa que recebi este carro para um teste de alguns dias. Meu contato om ele era de apenas alguns quilômetros, e saber que iria poder conhecer com mais intimidade todo o seu conteúdo me deixou muito animado. Além disso, confesso, a Renault Sport faz parte da minha história como apaixonado por automobilismo e dos ralis, duma forma muito especial, e desde muito jovem.
Foi com mais ou menos 12 anos que comecei a acompanhar com muito interesse as provas do WRC. Entre muitos nomes importantes que tive o privilégio de poder ver ao vivo em diversas provas, está o de Jean Ragnotti, eternamente ligado à Renault Sport e sempre recordado pela sua fantástica vitória em Monte Carlos em 1981. Pelas suas mãos passaram ainda nos anos 70, Renault 5 Alpine, mais tarde já no inicio da década de 80 o Renault 5 Turbo, e ainda o 5 Maxi Turbo. Com o final do grupo B, outros esportivos de destaque poderia apontar aqui, como o Renault 11 Turbo e ainda o fantástico e irrequieto Renault 5 GT Turbo. Todos estes modelos, como referi, são referências para mim no esporte dos anos 80 e 90, não sendo por isso difícil adivinhar que estar com um carro que tinha a assinatura Renault Sport em nossa garagem me deixava com a sensação que iria escrever um pouco de minha história como apaixonado por carros e automobilismo.
No entanto como necessitava ser isento em minha avaliação, me desprendi de minhas afloradas emoções e comecei como sempre observando por fora o Sandero RS.
Sem dúvida que o trabalho estético é elogiável, ele passa a exata sensação do quanto é esportiva esta versão do Sandero. De imediato chama a atenção o baixo posicionamento da carroceria, com reduzida distância em relação ao solo. Destaque ainda para os para-choques exclusivos, e agressivos, com bonitas rodas escuras de aro 17, aerofólio discreto, mas marcante, e ainda a como toque final, o escapamento com dupla ponteira. Tanto nas laterais como na traseira a inspiração para este modelo é visível através da assinatura RENAULT SPORT. Tudo isso poderia ser exagerado, ou até deselegante, mas no caso desta versão, esse trabalho de cosmética foi feito de forma harmoniosa, mas com o fundamental toque de esportividade, e que nos leva a esquecer que estamos a falar de um modelo que é das primeiras opções da Renault em sua lista de produtos no Brasil, exatamente como a marca fazia com os pequenos esportivos da década de 80, transformado carros normais, em pequenos “foguetes”.
E para continuar a descobrir o Sandero RS, hora de passar para o seu interior. Sem mudar muito ao acabamento já conhecido do modelo, os itens marcantes são os bancos em dois tons, escuros e com traços vermelhos longitudinais que vão até ao encosto de cabeça. Também o volante, de reduzidas dimensões, tem a sigla RS em destaque. Ainda falando dos bancos dianteiros referência para os apoios laterais salientes, necessários para apoiar de forma correta o corpo quando em condução mais esportiva. O interior incorpora a prática central multimídia, de fácil utilização e com um também prático, e eficaz, sistema de navegação por GPS. O sistema de som sem ser um destaque, é, no entanto, bom. Apesar de disponibilizar sensor de estacionamento, não espere câmera de ré e outros pequenos mimos já corriqueiros em alguns modelos. Afinal estamos a falar de um esportivo, e nunca ninguém reclamou de falta de conforto em uma Ferrari, por exemplo.
Chama a atenção o botão RS, que ao ser acionado, com a informação de modo SPORT no painel, proporciona através de giro do motor mais alto, reações mais rápidas, facilmente interpretadas pela sensibilidade do acelerador que aumenta ainda mais.
Como características desta opção nos três modos de direção estão:
• Modo Normal: ESP ligado, regimento do motor normal com GSI (Gear Shift Indicator) programado para baixo consumo.
• Modo Sport: ESP Ligado, Mapa de injeção alterado, regimento do motor mais alto, respostas do acelerador mais rápidas, GSI (Gear Shift Indicator) reposicionado para troca de marcha esportiva, ronco do motor mais esportivo.
• Modo Sport +: ESP desligado, permitindo uma condução esportiva, aproveitando plenamente todo o potencial do carro. É acionado através de uma longa pressão no botão R.S.
Por falar em acelerador, referência para os três pedais em metal, próximo ao que é utilizado em carros de competição, e proporcionado um melhor contato entre o calçado utilizado e os pedais, além de naturalmente ampliar a esportividade do ambiente interno.
Antes de dar partida ao motor não quero deixar de fazer uma observação. Parece-me mais fiel, e até lógica, a opção pelos tons de amarelo ao identificar o modelo no seu interior, afinal as cores da Renault Sport são o amarelo e preto, e fico com a sensação que a mudança do vermelho pelo amarelo, transmitiria uma instintiva noção de estarmos ao volante de um esportivo da Renault. Não sei o motivo desta opção, mas me parece que esta alteração deveria ser levada em conta pelos engenheiros da marca francesa no Brasil.
Hora de dar partida ao motor 2.0 16v de 150cv. O maravilhoso ronco é quase como uma sinfonia para os ouvidos dos amantes de carros esportivos. Audível o quanto baste, sem ser exagerado, a Renault sem dúvida acertou a mão. No escapamento o diâmetro do tubo foi aumentado e o escapamento duplo aumentou a quantidade de gás de escape, melhorando o torque e potência disponibilizada.
Para dar ainda mais vida a este motor, um novo coletor de admissão, 20% mais largo além do duto de admissão reposicionado, para maior resfriamento através do ar deslocado do exterior. Pressão de injeção de 4,2 bar, novo mapeamento do motor, trabalhado pelos homens da Renault Sport, e ainda, novo sistema de exaustão, tudo isso são atributos que mostram que a Renault não deu apenas visual de esportivo a esta versão, mas também um coração valente, capaz de satisfazer o mais exigente fã deste tipo de carro. Alias cabe aqui um parêntesis para falar da opção arriscada da Renault, ao ser pioneira na oferta de um Hot Hach ao mercado brasileiro.
Muito comum em outros mercados, principalmente o europeu, onde praticamente cada modelo Hatch tem sua versão “apimentada”, o mercado brasileiro nunca se mostrou suficientemente maduro para receber esta opção de veículo. Invariavelmente ele se destina a um cliente que prioriza a esportividade em detrimento de conforto e seus itens associados. Como o suposto status sempre falou mais alto, as marcas sempre tiveram um pé atrás quanto a introduzir produtos que requerem, além de disponibilidade financeira do comprador, uma forte personalidade, afinal muito mais que mostrar um carro, o comprador deste tipo de produto, quer sentir todas as emoções que ele proporciona.
E a Renault acertou em cheio na receita encontrada. Um motor já conhecido, corretamente trabalhado, associado a um curto câmbio manual de seis marchas e o resultado só poderia ser, rapidez, agilidade e esportividade. Com toda a certeza o proprietário do Sandero RS não vai reclamar do som do motor, e do giro mais elevado, mesmo em sexta marcha. Nossa equipe fez mais de 800 km em estrada, e este nível de som não é um problema, e sim uma característica.
E como se comporta bem o Sandero em estrada. A Renault preparou um pacote de alterações técnicas que lhe dão um comportamento de carro de corrida.
A distância em relação ao solo foi reduzida em 26 mm, incorporando molas mais rígidas, com barra estabilizadora também ela mais rígida em 17%, e ainda dureza estendida ao eixo traseiro em 65%.
Este conjunto de soluções, associadas às rodas de 17” com pneus 205/45R17 84V Continental Sport Contact 3, que têm uma estrutura específica para mais aderência e mais estabilidade nas curvas, faz do Sandero RS 2.0 um esportivo de mão cheia.
Como referimos o comportamento dele em estrada é digno de referência, mas ele pede mesmo um traçado com muitas curvas, bem sinuoso, ou até, porque não, uma pista. Seu comportamento em curva é ágil, seguro e eficaz, nunca trazendo surpresas para o condutor, fazendo lembrar um trem sobre trilhos. Isso é a prova de que o conjunto mecânico oferecido pela Renault nesta versão do Sandero é muito interessante.
Para frear toda esta animação, freios de disco nas quatro rodas. Os discos dianteiros tem 280x24mm de diâmetro e espessura e pistão com 54 mm de calibre. Já os discos de freios traseiros tem 240mm com 34 calibre do pistão. Os freios se mostraram muito eficientes, até quando exigidos com mais frequência. Além disso, foi destaque o equilíbrio na frenagem.
Ainda no aspecto mecânico, breves palavras para a direção eletrohidráulica que mostrou ter um equilíbrio elogiável entre conforto a baixas velocidades e manobras, sem deixar de lado a necessária dureza para uma condução mais precisa em alta velocidade.
Claro que com todo este apelo ao pedal da direita, o consumo fica prejudicado, sem ser alarmante, pois até nesse quesito ele é tecnicamente eficiente, nosso Sandero abastecido com etanol ao longo de todo o teste, conseguiu 7,4 km/l em condução urbana e 10,8 km/l em estrada. Muitos destes parâmetros absorvem um pouco do aproveitamento que fizemos do seu potencial, sendo por isso admissível que poderíamos conseguir melhorar um pouco esse nível de consumo.
Outro aspecto que consideramos muito positivo é o preço que a Renault conseguiu para esta versão, R$ 62 500,00. Sem entrar no mérito da questão do preço dos veículos no Brasil, este valor posiciona o Sandero 2.0 RS como uma das melhores relações Preço/Qualidade do mercado brasileiro.
Apenas com um concorrente (Peugeot 208 GT) neste ainda restrito grupo de Hot Hatch esportivo, o Sandero RS 2.0 deixou uma nostálgica sensação de saudade, e seu acabamento mais rústico e básico no interior, contrasta com sua capacidade de surpreender pelo apelo esportivo, seja através do seu visual irreverente, como na oferta de recursos a alta velocidade, afinal esta é sua essência, um verdadeiro esportivo.
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Renault Sandero RS 2.0 | Renault Sandero RS 2.0 |
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