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Opinião: Brasil na contramão do mundo – e o fosso vai aumentar!


Que os produtos da indústria automobilística vendidos no Brasil têm normalmente uma defasagem, invariavelmente de anos, em relação aos produtos oferecidos pelas marcas instaladas no país em outros mercados mais maduros como Europa e EUA, é algo que todo o “mortal” já sabe. O cenário é contrariado de alguma forma pela importação de produtos mais modernos, seja pelas próprias marcas através de opções em seu portfólio, como outras marcas ou importadores que não têm produção no país mas representam a face mais visível do desenvolvimento tecnológico da indústria automobilística global.


E no momento que o mundo inteiro investe na eletrificação, seja pela necessidade de depender cada vez menos dos combustíveis fósseis, mas principalmente pela necessidade de combater as questões ambientais que severamente afetam cada vez mais o planeta, tudo isso já seria mais que suficiente para decisões no mínimo coerentes com a realidade que se apresenta para todos nós, com desastres e catástrofes que trazem, não só prejuízos humanos e financeiros, mas incerteza quanto ao futuro das próximas gerações . São Paulo viveu uma semana atrás um evento climático feroz, que uma semana depois ainda afeta a vida das pessoas, levou a mortes, prejuízos incalculáveis, e segundo os especialistas, esse será o novo normal, tudo isso pelas grandes transformações que o aquecimento global vem provocando em nosso planeta.


Mesmo antecipando que medidas que mexem com interesses de “gente grande” o dinheiro e os negócios sempre falando mais alto que qualquer outra questão, não podemos deixar de referir que medidas como a deliberação anunciada, pelo Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex), de que já a partir de janeiro de 2024, carros elétricos, híbridos e híbridos plug-in contratados fora do país voltarão a ser gradualmente tributados com imposto de importação.


Não por acaso, a decisão vem na sequência de outra decisão, que concedeu incentivos fiscais para a produção de veículos movidos a combustíveis fósseis, dentro da Reforma Tributária aprovada no Senado no último dia 8 de novembro, em detrimento de propostas que poderiam estimular a produção de veículos que utilizam tecnologias sustentáveis e promovem a descarbonização.


Na ocasião marcas como a GWM disseram que “em um momento em que a indústria automotiva mundial passa por uma revolução tecnológica que está adotando globalmente a eletrificação, é um contrassenso e um desserviço ao país apostar em uma fórmula que está desalinhada com o futuro sustentável do planeta.”


Agora é a vez da principal associação de importadores de veículos, a Abeifa (Associação Brasileira de Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores) manifestar sua indignação com medidas que colocam o Brasil na contramão do mundo quando o assunto é as novas formas de mobilidade alinhadas com a preservação do meio ambiente.

A Associação Brasileira de Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores manifestou em comunicado as seguintes considerações:


“A entidade reforça seu compromisso de atuar fortemente no processo de descarbonização da frota brasileira e contribuir para o projeto de neoindustrialização do país, bases são a inovação, a sustentabilidade e o fortalecimento do mercado interno, com geração de emprego e renda, propostas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços;


No entanto, a proposição de aplicação imediata (janeiro de 2024) da nova política de alíquota do imposto de importação para veículos elétricos e híbridos, ainda que faseada até julho de 2026, com 35%, é por demais punitiva ao nosso setor, em especial quando as nossas associadas já estruturaram seu planejamento estratégico/comercial para o próximo ano, além de ter produção em andamento em suas matrizes, unidades em trânsito por via marítima e até compromissos já firmados com as redes autorizadas de concessionárias para os primeiros meses do ano vindouro”


O texto enviado para a impressa continuou referindo que “Isso significa que haverá sobretaxação nas primeiras unidades a serem comercializadas em 2024, em prejuízo aos importadores, mas em especial aos consumidores finais. Vale ressaltar que os importadores de veículos automotores contribuíram (e contribuem) efetivamente com a modernização da frota brasileira, neste momento com a introdução de novas tecnologias e inovação exatamente nos veículos eletrificados, trazendo perspectivas de colocar o Brasil no cenário internacional da mobilidade descarbonizada”


O Comunicado da Abeifa termina referindo que, “ é preciso registrar: a Abeifa, desde 1991, sempre defendeu a prática do livre comércio com os demais países produtores de veículos automotores, por entender que, só assim, o Brasil pode desfrutar das tecnologias setoriais mais atualizadas. Diante disso, a entidade também se posiciona contrária à implantação do sistema de cotas, ainda que a mecânica de repartição não tenha sido explicitada pelo Gecex-Camex.”


Para finalizar refiro que, eu mesmo durante muito tempo fui um entusiasta do etanol brasileiro como fonte importante para a transição na direção de novas fontes energéticas, pelo seu baixo volume de emissões, permitindo a utilização de motores a combustão interna, enquanto o país se estruturaria para a chegada da eletrificação, mas a questão é que nós temos que saber observar quando os cenários exigem mudanças rápidas de trajetória e este é o momento no Brasil, assim como no mundo.


Apesar da tecnologia Flex, bem tradicional no Brasil, o etanol nunca foi uma verdadeira opção porque a ganancia nunca deixou o combustível ser verdadeiramente muito mais barato que a gasolina, no que seria um benefício para a vida das pessoas para a economia, etc. Ou seja, o Brasil em relação ao etanol sempre viveu o mesmo cenário que é visto em relação aos alimentos, um grande produtor, mas na verdade essa capacidade de produção não se reflete em preços baixos, não afetando positivamente a vida dos brasileiros, que pagam muito caro pelos alimentos, mesmo com essa gigantesca capacidade, que, assim como a cana de açúcar que dá origem ao etanol, apenas beneficia meia-dúzia que são os responsáveis por fazer os preços, invariavelmente de olho na exportação.


Finalizando, as marcas no exterior têm foco 100% direcionado para a eletrificação total de seus produtos, o que significa que com o aumento dos preços de veículos que cegam até ao mercado brasileiro via importação, e que representam o futuro da mobilidade, o atual cenário muito sombrio para a indústria automobilística no Brasil só fica ainda mais cinzento, lembrando que são poucos os planos conhecidos quando o assunto é modernização ou até mesmo implantação de linhas de produção de veículos que representem os novos caminhos da mobilidade.

 

Com jornalistas nos dois lados do oceano, informamos que nossos textos contêm expressões e palavras utilizadas tanto no Brasil como em Portugal, de acordo com a origem do conteúdo e o mercado principal a que se destinam.



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